segunda-feira, 20 de abril de 2009
SENTIMENTO PIRATA*
Nesse tempo, em que se discute tanto sobre o tema “pirataria”, vemos alguns segmentos em que a diferença de preço já se faz muito pequena. CD e DVD, hoje, já podem ser encontrados a bons preços em sua forma original. Isso se deve a uma reação das gravadoras, diante da necessidade de concorrer com os piratas. Porém, pouco se nota uma melhora nas vendas.
Criamos sentimentos piratas dentro de nós mesmos e, sem sentir, agimos automaticamente, sem pensar. Dizemos que um artista vive de shows e que o preço do produto original é abusivo, antes mesmo de buscarmos informação própria e concreta, achando nisso, uma boa desculpa só para pagar menos por menos. Não nos preocupamos com o fato de que, somente através da distribuição, este produto chega até nós e a outras pessoas como foi realmente criado, em diferentes lugares. E para haver distribuição, é preciso que venda. Em outras palavras, se adquiro um produto pirata de um artista que gosto, sem saber, estou enfraquecendo o prestígio profissional deste artista e, quem sabe, minando a continuidade de sua carreira.
É comum dizermos: “Do artistas que gosto, só compro original”. Mas fica difícil entender, visto que, se não gostamos de algo, porque iríamos comprar? Para aquilo que não gosto, qualquer preço é alto.
Tomemos cuidado com a auto-pirataria de cada dia.
Nossa necessidade de grandeza está em não sabermos onde escondeu-se nosso amor próprio. Por isso, pirateamos a auto-estima comprando roupas de marca, carros potentes, adornos finos e até pessoas, achando que, assim, tornarmo-nos mais poderosos e superiores. Não há nada de errado em ter conforto e prazer e é sabido que, muita vez, é preciso pagar para isso. Porém, a razão de se obtê-los é que deve ser medida.
Podemos piratear o amor afetivo. Dizemos que amamos alguém, mas antes de amar-se, quem poderia, realmente, sentir amor pelo outro? Amar-se significa querer-se bem. Então, se me quero bem, desejo estar com quem faz-me bem. Há pessoas que se juntam a verdadeiros carrascos e inventam desculpas para sua posição passiva diante de alguém que simplesmente lhes faz mal. Mulheres com homens ciumentos e inseguros, por exemplo, dizem amá-los, mentindo para si mesmas dizendo que é o jeito deles, sendo que, um pouco de amor próprio poderia abrir-lhes os olhos para o que fazem: piratear o bem estar afetivo. Há homens que fogem de si mesmos, para não encarar sua insegura capacidade de buscar auto-afirmação em encontros extraconjugais. Outra forma de piratear o próprio sentimento.
Nossas verdades pirateadas, muitas vezes, saem da TV, de revistas e de uma sociedade, quase totalmente, baseada em valores pouco sutis. Mas com um pouco de esforço, podemos ser nós mesmos. Aí sim, seremos originais.
Ser original é seguir passos que ninguém deu, é fazer o que se sente e não o que lhe induzem, aprender com vivências próprias e não com noções distorcidas e preconcebidas do certo e errado, ser o primeiro a aplaudir diante de algo que o emocionou, sem medo do silêncio alheio.
Você é um ser pirateado, com idéias impostas por sua criação, meio social e temores, ou é alguém disposto a apostar numa idéia mais alta, real e amorosa de si, a fim de tornar-se mais original?
Victor Chaves
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